quinta-feira, 18 de abril de 2024

ATÉ QUE ENFIM


Após uma semana do ‘teste da flor’, uma leitora sentiu falta das folhagens e flores, acompanhando meus textos.


Após os cumprimentos pela crônica — ‘Crianças de hoje’, publicado dia do aniversário de 305 anos de Cuiabá —, ela lascou um ‘cadê as folhagens lindas e as papoulas’!


Seu limite de tolerância com certeza tinha esgotado pela ausência, daquilo que estava acostumado a admirar e comentar todos os dias.


Acho muito pouco que num universo de quase quatrocentas pessoas, que recebem diariamente minhas crônicas com uma flor, apenas uma percebesse a falta da flor e folhagens, querendo saber o motivo.


O jardim está bem florido e até frutos caseiros estão produzindo, como as ‘doces jabuticabas’.


Tem uma verdadeira farmácia para primeiros socorros, como o ‘boldo’ para o estomago, ’ ‘capim cidreira’ é calmante, ‘hortelã para gripe’ e ‘alecrim’ para o coração e cozinhar vários pratos assados.


Essas preciosidades estão no meu jardim e deixei de enviar as suas fotos aos meus amigos.


O que me deixou encucado é que uma só leitora depois de alguns dias notou a sua falta.


E meus leitores sei que amam as flores e a minha caduquice com elas.


Quando me visitam me presenteiam com vasos de orquídeas das mais variadas espécies.


A última que recebi foi de um médico: um vaso com uma ‘muda de orquídea branca’.


Tenho várias mudas de orquídeas transplantadas em troncos de árvores.


Demora a florir e quando surgem é uma beleza só.


A cuidadora do jardim ama as plantas dedicando a elas um carinho todo especial, sobre a supervisão de um paisagista profissional.


Até esteira especial de proteção solar adquiri para o jardim, pois o nosso sol faz mal a elas.


Regadas duas vezes ao dia, pois o sol de Cuiabá exige.


Estou ‘remanchando’ para encerrar esta crônica, na ilusão de outra reclamação de um leitor sobre a ausência da flor, mas ‘desse mato não sai coelho’.


Gabriel Novis Neves

08-04-2024




quarta-feira, 17 de abril de 2024

O BÊBADO E O TOMBO


Todo mundo fala no número de tombos que o bêbado toma.


Ninguém procura saber a quantidade de garrafas de aguardente que antes ele consumiu.


Eu estou assim com as quedas que levo em casa, quando ninguém quer saber das estripulias que faço.


Graças a Deus sem fraturas. Mas já perdi as vezes que caí em casa.


O tombo de agora foi ‘glorioso’ — entre o vão da cama e a mesinha do abajur.


Deitado, com a máscara do CEPAP ligado para a sesta, tentei verificar se a lâmpada do abajur estava queimada.


Desequilibrei o meu corpo e rolei por esse vão amparado pelo meu braço esquerdo.


Foi uma manobra arriscada que fiz sem a mínima necessidade.


Esse meu comportamento ansioso causou apenas fortes escoriações no antebraço esquerdo, tratado com um curativo com mertiolate e fita adesiva compressiva.


Tudo bem comigo, fui ao escritório digitar uma crônica sobre o acidente, prontinha em minha cabeça.


Tenho campainha no meu quarto que, quando acionada emite um chamado no meu escritório.


No momento em que cai, minhas duas funcionárias estavam na cozinha fora do alcance da campainha, com o liquidificador ligado.


Depois de muito chamar uma ouviu um ruído e veio me socorrer. A outra nega ter ouvido a campainha.


Preciso controlar a minha ansiedade.


Descobrir um remédio salvador é a minha sina.


Nunca afirmarei que este será o meu último tombo, se não melhorar a minha ansiedade.


Fico pensando como um homenzarrão passou pelo estreito vão da cama.


Minha mãe também nos seus últimos anos de vida, caiu muito na rua.


Andava apressadinha e embaralhava as sandálias ou tropeçava nas irregulares calçadas de Cuiabá.


Como é difícil tratar uma ansiedade, causadora de tantos transtornos desagradáveis e danos à saúde.


Cair quando criança é aprendizado. Ela chora sentida, levanta, para de chorar e vai brincar.


Segundo a crendice popular, queda em idoso é uma das três causas de óbito. As outras duas são disenteria e pneumonia.


Vou frear a minha ansiedade, pois pretendo ficar por aqui ainda por muito tempo.


Gabriel Novis Neves

11-04-2024





terça-feira, 16 de abril de 2024

TESTE DA FLOR


Inventei de encaminhar a minha crônica aos amigos com flores do meu jardim.


Os leitores sempre comentam a beleza das mesmas ignorando, na maioria das vezes, o assunto da crônica.


Como diminuiu o acesso às crônicas, ficava apenas os comentários sobre as maravilhas do meu jardim.


Todos se curvavam ante a beleza das flores, com comentários exclamativos, e nada sobre os textos recebidos.


A impressão que tive, era que as flores desviavam a atenção da leitura.


Resolvi fazer um teste e analisar o resultado.


Encaminhei a crônica sem a flor.


Resultado: recebi vários comentários sobre o texto que enviei e ninguém sentiu falta da flor.


Esperava que alguém fosse perguntar pelo menos se eu tinha esquecido de postá-la.


Difícil entender os leitores que não observam os detalhes daquilo que recebem para ler.


Quando deixo de publicar as crônicas, sempre querem saber o motivo da ausência.


Pensam logo que estou doente.


O recebimento da minha crônica diária significa que estou bem de saúde e a flor um presente da natureza que só faz bem ao coração.


Se os leitores recebem as minhas crônicas e não comentam, é sinal que não estão interessados naquilo que envio.


Vou tentar mudar o conteúdo dos meus textos, o que acho difícil, encurtar o seu tamanho e esperar o resultado.


Vou pedir a orientação do meu editor.


Estreio com esta crônica bem mais curta e indagativa.


Pela reação dos meus leitores lendo ou não, direciono as crônicas para assuntos do interesse dos mesmos, sem ferir o meu livre arbítrio.


Continuarei a escrever sobre o cotidiano, com novas abordagens.


Gabriel Novis Neves

06-04-2024




CASOS E 'CAUSOS' DE CUIABÁ


Para que não desapareça com os anos as histórias de Cuiabá de bem antigamente, estou sempre à procura de escritores novos, cuiabanos de nascimento ou por opção, publicando livros impressos sobre nossa cultura, hábitos, religiosidade e gastronomia.


Mineiro, radicado há 40 anos na nossa capital, Jander Ruela Pereira, nos presenteou na sua estreia literária, com um livro de 191 páginas, um misto de personagens de ficção relatando os primórdios da cidade fundada há 305 anos!


‘Nonô Farol Baixo — Rio Acima, rio Abaixo’, é o nome do livro e do seu principal personagem.


Sou cuiabano, nascido na rua de Baixo com médico, ajudado pelo meu pai, o Bugre do Bar.


Muitas das histórias que sei e seus personagens me foram contadas por ele.


E o bar do meu pai era fonte inesgotável de histórias e causos de antigamente.


Batiam ponto no bar, e contavam as novidades, entre outras personalidades: o historiador Rubens de Mendonça, o músico Tote Garcia, o compositor Hélio Goiaba, o membro da Academia de Letras Gervásio Leite, o secretário particular de Dom Aquino Corrêa. Eles contavam as novidades, muitas vezes Fake-News!


Meu pai tinha pavor do redemoinho do rio Cuiabá, no lugar chamado ‘Boca do Vale’ o que me impediu de aprender a nadar.


Conheci quando criança, muitos ‘Nonô Farol Baixo’.


Quem ultrapassava a dose da bebida naquela época, falávamos que fulano de tal, precisava de companhia até a sua casa geralmente pelas bandas da Lixeira, ao lado do Tanque do Baú.


Nosso escritor Jander, relata com extrema fidelidade e competência, esse tempo verdadeiro que vivi ainda criança.


Nonô e seus colegas: Tá Feio, Serafim, Velho Basílio, Tacílo eram seus principais companheiros de ‘copos’ e andanças pela periferia de Cuiabá, sempre aprontando das suas.


Nonô era um magricela pobretão que não tinha ‘eira nem beira’, com mulher que cuidava da casa e filhos.


Ele nunca foi a um posto de saúde para uma simples consulta médica. Quando tinha as suas coisas tratava com chá de raízes e ervas.


Sabia que iria morrer cedo e pediu que não chorassem. Também o velório deveria ser alegre como foi a sua vida na boemia.


A personalidade do Nonô era diferente de todos seus amigos, pois tinha princípios próprios.


‘Passava horas olhando o céu, como se o vigiasse, observando pássaros coloridos e o malabarismo das pipas ao vento’.


Nonô dizia que, ‘mesmo não fazendo nada de importante nesta vida o homem morre do mesmo jeito que morre também aquele que fez muita coisa’.


Nonô tinha hábitos como ralar o guaraná e ingeri-lo em jejum com açúcar cristal, em pequeno copo de vidro, onde a água era adicionada lentamente e mexida com uma colherzinha dessas de chá.


Acreditava no efeito afrodisíaco do guaraná e espalhava o conhecimento entre seus companheiros.


Com Tá Feio, Serafim, Velho Basílio, Tacílo perambulava pelos quatro cantos da cidade sempre de cara cheia.


Sua última morada foi no Grande Terceiro, onde veio a falecer.


‘Abandonar o corpo não foi uma ideia que o fascinou, tampouco encontrar um espaço vazio sem vestígio algum de massa corpórea. ’


‘A gente se encontra por aí, rio acima, rio abaixo’ — seu epitáfio perfeito’!


Fico no aguardo de novos livros do Jander, contando a vida dos amigos do Nonô.


É história real da Cuiabá de bem antigamente, com seus personagens, religiosidade, cultura, bairros e gastronomia.


Gabriel Novis Neves

13-04-2024





segunda-feira, 15 de abril de 2024

GARÇONS MALABARISTAS


O mais espetacular garçom malabarista de Cuiabá atendia pela alcunha de ‘Alrright ”, e sempre era festejado onde trabalhava. Não me lembro de ter trabalhado no bar do meu pai.


Era requisitado para as grandes festas, em clubes e casas elegantes, e era o garçom oficial da residência da ‘Casa dos Governadores’.


Sempre elegante no seu smoking impecável, era casado com a Dita do Araés, e moravam em uma enorme chácara frutífera.


Desfilava com sua bandeja com incrível habilidade, cheia de copos de bebidas, por sobre ombros e cabeças dos convidados.


Era um show à parte — sempre dizendo ‘ "Alrright" —, para pedir passagem.


Os clientes o chamavam também por esse apelido que não sei de onde foi buscar.


Queridíssimo, foi um dos personagens da antiga Cuiabá, que as novas gerações nunca ouviram falar.


Suas cunhadas todas lavadeiras e engomadeiras de ternos brancos, eram famosas na cidade, pela qualidade dos seus serviços.


As menores trabalhavam na Maternidade de Cuiabá como atendentes.


Trabalhei com duas delas, até se aposentarem das suas atividades laborais.


Garçom como ‘Alrright’ é uma atividade em extinção.


Hoje a distribuição de bebidas é bem diferente, quando a maioria dos convidados bebe na boca da garrafa.


Os salgadinhos e doces são servidos na mesa e cada um pega sua porção.


Anos depois conheci no Clube Sayonara do Coxipó da Ponte, um garçom malabarista chamado de Silvinho, que fazia parte do show da Casa de Espetáculos de Nazir Bucair.


Silvinho era um ‘espeloteado’ no dizer do cuiabano e também era aproveitado pelo Nazir como ‘garçom show’.


Bons tempos em que se saia de casa para se divertir apreciando as peripécias de seus garçons.


Alrright parece de origem cuiabana e desconheço ter deixado descendentes.


O Silvinho acho que veio de fora e não sei se deixou descendentes.


O primeiro era elegante demais, o outro muito alegre com traços orientais. Ambas ótimas pessoas.


Foram duas personalidades marcantes na sua época, jamais sendo imitados por alguém.


Na passagem dos 305 anos de Cuiabá, é bom lembrar dessa gente que tanta alegria nos trouxe, e hoje pertence ao baú do esquecimento.


Gabriel Novis Neves

12-03-2024




sábado, 13 de abril de 2024

UMA HISTÓRIA DE CUIABÁ


No dia 8 de abril de 1969, o prefeito de Cuiabá escolhido pelo governador eleito, era o engenheiro agrônomo cuiabano de ‘thapa e cruz’, Bento Machado Lobo.


Substituiu o Dr. Frederico Campos, às vésperas das festas dos 250 anos de Cuiabá.


A miss Cuiabá escolhida foi uma linda cacerense.


O governador resolveu demitir o prefeito de Cuiabá.


Na época eu era Secretário de Educação do Estado.


Sem me consultar, o governador Pedrossian resolveu me nomear prefeito.


O ato estava em mãos do senhor João Arinos, homem da sua extrema confiança e chefe da Casa Civil, para publicação no Diário Oficial do Estado.


Coube a ele a missão de ‘agradecer’ ao Dr. Frederico Campos pelos serviços prestados.


A ‘briga’ entre o prefeito e governador, dois engenheiros, foi com relação ao calçamento de Cuiabá.


Um era o favor do asfalto e outro dos bloquetes.


Como a sede da Secretaria de Educação ficava no Coxipó, futuras instalações do 9º BEC, eu não participava dos bastidores do Palácio Alencastro.


Fui chamado para uma audiência urgente com o governador Pedro Pedrossian ao meio-dia.


Ao chegar à Casa Civil, caminho obrigatório ao Gabinete do Governador, fui alertado pelo ‘seo’ João Arinos sobre a audiência.


Ele não via com bons olhos essa mudança naquela hora. Trocamos ideias e fui preparado, inclusive com soluções.


O Governador esticou o braço, me deu um forte aperto de mão e meu chamou de prefeito dos 250 anos.


Ouvi em silêncio suas ponderações sem interrompê-lo.


Iniciei dizendo não saber fazer discursos de improvisos.


As festas seriam intensas e eu tinha três crianças de 5, 4 e 3 anos, que precisavam muito do meu apoio noturno.


Tinha que percorrer os clubes da cidade com a rainha e dançar, além do discurso sobre a data festiva.


Disse ao governador que ele teria uma solução caseira, técnica, não turbulenta, para a emergência.


Nomearia o cuiabaníssimo secretário de agricultura, Bento Machado Lobo para prefeito de Cuiabá nos seus 250 anos.


Ele era sobrinho de Dona Maria Dimpina, professora laureada de Cuiabá e primo do Padre Firmo, da paróquia da Catedral Metropolitana.


Assumiria a Secretaria de Agricultura o seu vice e cria, Maçao Tadano.


Não precisaria alterar o quadro de secretários.


À tarde o novo prefeito estava empossado, e à noite discursando e dançando nos clubes de Cuiabá.


Bento e Maçao, seguiram carreira política sendo eleitos deputados.


Eu fiz carreira acadêmica tendo implantado a UFMT.


João Arinos aposentou-se como Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.


Com a divisão do Estado em 1979, Pedrossian fixou residência em Campo Grande. Foi eleito senador e governador, de Mato Grosso do Sul.


E o engenheiro Frederico Campos, foi escolhido o último governador biônico de Mato Grosso dividido.


Pedacinho da história pouco lembrada da Cuiabá 305 anos!


Gabriel Novis Neves

08-04-2024


Fotografias publicadas por FRANCISCO DAS CHAGAS ROCKA e outros colaboradores membros do grupo social CUIABÁ-MT DE ANTIGAMENTE, no Facebook:



























FALTA SENTIDA


Nem uma semana se passou da promessa que fiz de descansar os teclados, e esta é a segunda ‘furada’ na promessa que fiz.


Durmo e acordo bem, após onze ou doze horas de sono tranquilo.


Tomo o meu café e um ‘incrível sono’ continua a me perseguir.


Inicia-se o dia, e uma luta entre o corpo e a mente.


O corpo manda eu deitar e aproveitar o sono que me é oferecido e dormir sem remorso.


Já venci com galhardia o tempo de trabalhar e praticar outras ações.


A mente insiste em me incentivar a escrever.


Deve existir uma ‘guerra de neurônios’ em minhas sinapses cerebrais, transformando aquilo lá em um verdadeiro pandemônio.


Enquanto isso, conscientemente luto para ficar de bem comigo.


Está difícil o embate, e não sei explicar como estou escrevendo.


Com a ausência da publicação diária dos meus textos, tenho agora certeza que sou lido.


Muitos desses leitores estão sentindo falta de mim no ‘pasquim’, e me perguntam, quando voltarei.


Eu não sei, mas não será por muito tempo.


O tempo é o melhor avaliador das nossas necessidades intelectuais e emocionais, e me dirá o momento certo para retornar a escrever disciplinadamente.


Por enquanto, cometerei alguns pecados veniais, aqui e ali, escrevendo textos sem compromissos de publicá-los.


O médico hoje mexeu na minha medicação com o intuito de tirar o meu sono durante o dia.


Vou fazer o célebre ‘desmame’ do suspeito de me fazer dormir durante o dia, impedindo-me de trabalhar.


O pior que enfrento é o forte calorão, que me faz passar mal.


Mesmo com o ar-refrigerado ligado, não encontro lugar onde me sentir bem.


O frio do aparelho, desencadeia contraturas dolorosas nos meus pés exigindo até o uso de anti-inflamatórios.


O certo é que recebi visitas no escritório e consegui elaborar este texto enquanto conversava, o que é um bom sinal.


O hábito de escrever continua intacto, mesmo nesse ‘monte de sono’, o que é uma ‘Graça recebida’.


Gabriel Novis Neves

17-03-2023